Depois de complicações em uma gravidez de risco, a enfermeira Viviane Xavier precisou ser submetida a uma cirurgia de emergência em Volta Redonda, no Sul do Rio de Janeiro. Uma hora depois, nasceu Davi, com apenas sete meses de gestação e 980 gramas.
Na UTI neonatal, em meio a tubos e aparelhos de ventilação, um polvo feito de crochê servia de companhia para o bebê prematuro.
Sem contato com a mãe, o menino foi simbolicamente acompanhado pelo brinquedo durante o processo em que recebeu cuidados especiais. “Eu fui ver o meu filho três dias depois do parto. Nossa preocupação é de que ele não fosse sobreviver”, lembrou Viviane.
Durante a internação, os pais perceberam que o brinquedo acalmava o menino que, vez ou outra, se assustava com o barulho dos equipamentos. E o polvo de crochê continuou acompanhando a criança. “A gente via que ele apertava o polvinho e ficava mais tranquilo”.
Davi recebeu alta pouco mais de dois meses depois. Com boa evolução, a liberação do hospital aconteceu sete dias antes do previsto pela equipe médica.
Efeito positivo no bebê e nos pais
Uma combinação de linha, agulha e muito amor, que passou a fazer a diferença na recuperação e no desenvolvimento de crianças prematuras internadas nas UTIs neonatais do Sul do Estado.
O projeto OctoVR teve início em Setembro de 2017 e já confeccionou mais de 2 mil polvos que fazem companhia a bebês que passam os primeiros dias de vida em uma encubadora.
“É um projeto de amor pela recuperação do prematuro. Em vez de ele ficar sozinho na encubadora, ele ganha um amiguinho. Quando os pais veem os bebês agarradinhos com o polvinho, isso humaniza a UTI”, explicou a embaixadora do projeto no Sul do Rio, Bernadete Faria Monteiro.
Com o passar do tempo, outras mulheres decidiram se juntar ao projeto, que atende crianças internadas em Volta Redonda, Angra dos Reis, na Costa Verde, e também em Barra Mansa.
Inicialmente, duas unidades médicas da região utilizavam o polvo de crochê na recuperação dos bebês. Agora, seis hospitais das redes pública e particular aderiram ao projeto. Em troca de um polvinho, os pais podem doar materiais para que mais brinquedos possam ser confeccionados.
O projeto Octo começou em 2013, na Dinamarca. O polvo foi escolhido por ter “braços” que acolhem o bebê. Os tentáculos macios podem ser agarrados e evitam que o bebê puxe os fios e sondas. O corpinho ajuda no posicionamento do bebê na incubadora e transmite calma e proteção ao recém-nascido, lembrando o útero materno.
A assistente social na UTI neonatal do Hospital São João Batista, em Volta Redonda, Patrícia Lacerda, acompanha os pais durante o tempo em que os bebês ficam internados. Ela explica que o efeito positivo é notado não só na criança.
"Os pais estão em um momento muito fragilizado por terem que deixar o filho na UTI. Estão chateados, inseguros com o que pode acontecer. O polvinho traz um sorriso para o rosto deles. Parece ser uma esperança em meio a um turbilhão de incertezas”.
Ainda não há evidências científicas dos benefícios do uso do polvo de crochê para os bebês prematuros. Apesar disso, são notadas melhoras nos sistemas cardíacos e respiratórios, além de um aumento no nível de oxigênio no sangue dos bebês que fizeram amizade com os polvos de crochê.