Sul
Fluminense – Com o desemprego atingindo a mais de 13 milhões de brasileiros
neste primeiro semestre de 2018, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatísticas), a saída para muitos trabalhadores foi investir na
informalidade para garantir a renda. Entre o público feminino, além do setor de
beleza, o ramo de alimentação tem se destacado e cada vez mais surgem mulheres
apostando na venda e confeitaria de bolos, tortas, doces, salgados, pães, entre
outros produtos que, conforme afirmam, ajudam a garantir o sustento de toda
família. Mas, para se destacarem no mercado e conseguir o maior fomento de seus
negócios, as profissionais da “cozinha” afirmam que o segredo é a capacitação e
o investimento em novidades, fatores determinantes para conquistar e manter
suas clientelas.
É
o que afirma a autônoma Renata Dias, de 40 anos, que há três anos trabalha em
casa com a venda de salgados e pães. Conforme conta, inicialmente a atividade
serviria como um “bico” para pagar as suas dívidas, logo após ter perdido o
emprego. No entanto, ela percebeu que o negócio poderia se tornar sua fonte de
renda e, sendo assim, resolveu investir em cursos e novas técnicas.
“Se
a gente se propõe a fazer algo, visando que seja nossa principal fonte de sustento,
isso tem que ser bem feito e elaborado. Eu sabia fazer salgadinhos e pães para
consumo próprio da família. Mas, à partir do momento que quis investir na venda
eu busquei me aprimorar, fiz cursos, pesquisei opções de recheios, massas e
texturas para que pudesse levar um produto de qualidade e diferenciado para os
clientes”, destaca Renata.
A
boleira Adriana Moreira, de 37 anos, trabalha como autônoma há quase quinze
anos e conta que, nesse período, foram vários os investimentos para se
aprimorar, conhecer novas receitas, recheios e cobertura de tortas. Ela conta
que já fez cursos em Barra Mansa, Volta Redonda, Resende e até no Rio de
Janeiro e que não se arrepende.
“Eu
comecei fazendo os bolos de aniversário tradicionais, com recheios básicos.
Mas, ao longo do tempo fui obrigada a aprimorar e a aprender novas receitas
para atender aos clientes que estão mais exigentes. As pessoas gostam de tudo
que está na moda, que surge na internet, e temos que estar preparadas para
atender”, comenta a boleira, ao se referir aos naked cakes, mais conhecidos
como modelo de bolo “nu”, que se tornaram os queridinhos de festas de
aniversário e casamento.
Conforme
explicou Adriana, por ser composto, principalmente, por frutas e flores frescas
na decoração, ela precisou aprender, por exemplo, a combinar as melhores opções
de acordo com a estação do ano. Além disso, foi preciso investir no aprendizado
de como montar as bordas, o manuseio dos medidores para o tamanho escolhido
pelo cliente e, até mesmo, a melhor forma de transportar o bolo. “O naked cake
é um bolo que fica à mostra e, apesar de simples, requer muito cuidado na
ornamentação. Só comecei a vendê-lo quando realmente me senti segura de que
havia aprendido tudo o que precisa sobre esse bolo, que a cada dia se torna
mais tendência”, afirmou a boleira.
Motivando
e ajudando quem trabalha na cozinha
A
empresária Ana Alves é proprietária de uma loja de artigos para festas e
produtos para confecção de tortas, bolos, doces, chocolates, massas, entre
outros, em Volta Redonda e Barra Mansa. Para melhor atender suas clientes, a
grande maioria trabalhadoras autônomas, ela tem um calendário mensal de cursos
diversificados na área de culinária, todos realizados na loja e com
profissionais capacitados. No mês de maio, em parceria com um projeto gratuito
do Sebrae, ela organizou para suas clientes palestras cujo objetivo foi levar
conhecimento e dicas de como cuidar do próprio negócio. Uma dessas palestras,
ministradas pela cheff Rô Gouvêa, teve como tema: “Culinária e Empreendedorismo,
a Cozinha que Vira Negócio” reuniu cerca de cem pessoas em Volta Redonda e 60
em Barra Mansa.
Além
de motivação para as participantes, a palestra levou conhecimentos sobre
conceitos de controle de produção, manipulação de alimentos, MEI, Simples, cuidados
com a marca., importância de redes sociais, rotulagem e Informe nutricional dos
produtos, finanças pessoais e atendimento ao cliente. “O retorno foi muito
positivo por parte das participantes, porque sabemos que elas precisam dessa
capacitação, de ter informações sobre empreendedorismo, de como investir e
melhorar a fonte de renda que vem da cozinha de casa”, disse Ana, ao ressaltar
que um dos pontos importantes da palestra foi a abordagem sobre a necessidade
das autônomas se formalizarem através do MEI (Microempreendedor Individual) e
de o utilizarem da forma correta para que não tenham prejuízos.
“Hoje
muitas empreendedoras formalizadas possuem máquina de cartão de crédito, fazem
suas vendas e não as declaram porque não sabem que precisam fazer isso”,
explicou a empresária, ao acrescentar que benefício do MEI como, por exemplo, o
direito a licença maternidade, também foram abordados durante o evento. “Muitas
mulheres não sabiam que, sendo formalizadas, elas podem ter esse direito, uma
vez que o cadastro no MEI esteja totalmente em dia”, observou a empresária.
A
confeiteira, Carolina Sousa, participou da palestra e disse ter achado uma
iniciativa excelente porque, conforme explicou, muitas das vezes a grande
maioria das pessoas que prestam esse tipo de serviço não possui moções de como
administrar seus negócios. “A palestra abriu nossas mentes para isso. Não temos
nenhuma formação administrativa e quando o que produzimos vira um negócio
lucrativo, muitas das vezes ficamos perdidas em como sobre como devemos
guia-lo. A palestra, já no primeiro encontro, mostrou o quanto é importante
esse olhar administrativo e financeiro do negócio, uma vez que só ter uma ideia
boa não é o suficiente”, afirmou a confeiteira.
A
autônoma Sandra Paula de Oliveira, que trabalha com a venda de salgados, também
participou da palestra e diz ter ficado muito satisfeita com tudo o que
conseguiu absorver do evento. Ela, que mora sozinha com três filhos, diz que
consegue bancar todas as despesas da casa como próprio negócio e, por isso,
acredita na importância de se capacitar e aprender a administrar suas vendas.
“Minha
renda vem da cozinha de casa, mas eu preciso estar antenada, buscando sempre
melhorar, porque não troco o que faço por emprego nenhum. O que ganho na minha
cozinha patrão nenhum me pagaria, nesse momento, se eu trabalhasse de carteira
assinada”, compara Sandra, ao acrescentar que ainda tem como grande vantagem o
fato de poder cuidar da casa e dos filhos, enquanto prepara seus produtos.
“Enquanto você põe roupas para lavar na máquina, já está cozinhando o peito de
frango para o recheio do salgados e assando um bolo, ao mesmo tempo. Essa é a
grande vantagem de ter o próprio negócio e, por isso, procuro sempre investir
em capacitações que me permitam ficar por dentro das novidades do mundo da
confeitaria para que, dessa forma, eu consiga sempre levar o melhor para a
minha clientela”, disse a autônoma.